(21.06.10)

DIALOGANDO: Categoria para apresentar opiniões e experiências de profissionais de diversas áreas inseridos no mercado e que possam trazer informações úteis aos candidatos. Por exemplo: pessoas aprovadas em processos de trainees, gestores de empresas, profissionais de RH, etc.

Olá, pessoal!

Estamos muito felizes por trazer uma nova entrevista para o Dialogando!

A entrevista desta semana é muito especial para nós, por trazer a opinião de um profissional que todas do blog admiramos (e nos inspiramos) muito: Sidnei Oliveira.


Formado em Marketing e Administração de Empresas, autor de vários livros sobre Liderança e Administração (incluso o novo livro já indicado aqui no blog, "Geração Y - O nascimento de uma nova versão de líderes"), Sidnei tem 47 anos, é consultor, autor e palestrante, expert em Conflitos de Gerações, Geração Y, desenvolvimento de Novos Talentos e Redes Sociais.

Nosso objetivo com esta entrevista é, principalmente, situar nossos leitores a respeito do termo Geração Y. Nas oportunidades que temos de escrever nossos textos, às vezes esquecemos que não são todos que estão familiarizados com a expressão e, por conta disso, decidimos trazer a visão de alguém que consideramos um expert no assunto!

Esperamos que vocês gostem e aproveitamos a oportunidade para agradecer ao Sidnei por disponibilizar seu tempo e opinião conosco e os leitores do blog!

1) Para os que ainda não estão familiarizados com o termo "Geração Y", você pode explicar como ele surgiu e o que significa?

O princípio de "batizar" uma geração com nomes surgiu na década de 1960, quando sociólogos buscavam explicar as transformações culturais provocadas pelos jovens nascidos logo após a Segunda Guerra Mundial. Eles chamaram esta geração de Baby Boomers, nome dado em razão da grande explosão populacional ocorrida entre 1940 e 1960.

Para diferenciar os Baby Boomers de seus filhos, batizaram a geração seguinte de X, nome inspirado na figura do político Malcom-X. A geração X também teve outros nomes como "geração Jeans", "geração Coca-cola", e representa pessoas nascidas entre 1960 e 1980.

O termo Geração Y também vem de um fato curioso. Durante a Guerra Fria, a antiga URSS exercia influência em diversos países comunistas e chegava a "sugerir" a letra do nome que crianças deveriam receber quando fossem registradas. Durante o período 1980-1990 (quando acabou o regime Soviético) a letra em vigor era a "Y" e milhares de crianças pelo mundo tinham nomes como Yuri, Yossef, Yohanes. Aliás, a mais famosa delas é Yohannes Sanches, que batizou seu blog de Generation Y, justamente por este fato.

Os sociólogos, conhecendo esta peculiaridade, decidiram usar o termo para a geração que nasceu entre 1980-2000. A hoje famosa Geração Y – que também é conhecida como Geracao Internet, geracão videogame, Millenials, etc.

2) Quais são as características dessa geração no mercado? E no âmbito pessoal e familiar?

São jovens completamente conectados, que possuem uma grande intimidade com as novas tecnologias de comunicação (internet, celulares, redes sociais, etc). Possuem um ritmo intenso e com múltiplos focos, o que muitas vezes é identificado como ansiedade e impaciência.

No ambiente familiar os desafios estão presentes. Em casa, pais encontram dificuldades em zelar pelos valores humanos dos jovens e dar referências pessoais sem as expectativas que eles sigam estas referências. Por exemplo: uma coisa muito pouco eficaz é dizer a um jovem Gen Y que “quando era jovem” também sentia coisas semelhantes, por isso optou por algumas escolhas. Este tipo de argumento costuma ser bastante fraco, pois o cenário do “quando era jovem” certamente era completamente diferente do atual, deixando o exemplo muito fraco. Uma alternativa a esta situação é se colocar na situação atual do jovem e imaginar – com toda experiência acumulada – como você se comportaria nesta realidade, por mais estranha e absurda que possa parecer.

É importante lembrar que o mundo esta bem diferente e muito mais competitivo que no passado. Um jovem de hoje não consegue nem se qualificar como candidato a uma vaga de emprego de qualidade se não tiver um curso superior, falar uma língua estrangeira e tiver completo domínio do computador e internet. Isso certamente não era necessário ha 20 anos, quando os atuais pais, professores e gestores eram jovens.

3) O tema Geração Y começou a ser debatido apenas recentemente. Por que o mercado e a mídia têm se interessado tanto sobre isso? E você, quando começou a estudar o assunto e por quê?

O aumento na expectativa de vida das pessoas, provocado principalmente pelos avanços científicos e tecnológicos, fez surgir um novo comportamento nas pessoas, que é a ampliação da juventude. Todos se sentem, ou pelo menos tentam ser jovens e produtivos. Em quase todas as empresas, executivos experientes, que não tiveram oportunidades de fazer uma boa faculdade, estão voltando para a sala de aula, em parte por pressão das empresas e em parte para continuarem se mantendo produtivos e empregáveis.

Se avaliarmos com mais profundidade iremos identificar neste comportamento o melhor exemplo de tentativa de "sobrevivência", diante da ameaça de perder a posição para jovens (mais baratos) que chegam com graduação avançada e intimidade tecnológica, o que confere à geração Y a percepção de um ritmo muito mais dinâmico que os mais velhos.

Este cenário provocou o surgimento, ou melhor, a ampliação de um comportamento que se intensificou nos últimos anos, que é o desligamento em busca de "novos desafios". Quando os jovens talentos desistem de confrontar os mais velhos e partem para outra empresa deixam a empresa com um vácuo na formação de seus sucessores, ou perde quando o Líder mais velho é desligado ou vai embora da empresa levando seu "legado de conhecimentos tácitos" que construiu junto com a empresa.

Este é um dos principais motivos para o crescente debate do tema Geração Y nos dias atuais e o meu interesse pelo tema surgiu de minha primeira experiência como empresário, quando decidi trabalhar com internet.

Em 1995 abri um dos primeiros sites de buscas brasileiro (ACHEI!!) e para compor minha equipe de colaboradores encontrei um desafio enorme, uma vez que por ser um ramo de atividade muito novo, não havia ainda referenciais de empresas e muito menos "cursos técnicos" de formação de profissionais para internet. Os únicos habilitados eram jovens de 15 a 18 anos, multi-tarefas, informais e completamente avessos à estruturas rigidas. Todos auto-didatas na nova tecnologia que surgia.

Estas características despertaram meu interesse em investigar este novo comportamento profissional, pois acreditei que seria um padrão em outros ramos de atividades após a consolidação da internet, o que de fato observamos nos dias de hoje.

Nos últimos 9 anos promovo como consultor o desenvolvimento de novas lideranças nas empresas e esta experiência é a base de meus estudos de Geração Y há 5 anos. Conhecimento que consolidei no novo livro que estou apresentando no mercado este mês.

4) Na sua opinião, quais são as melhores características da Geração Y? E as piores?

O ponto que acredito ser o melhor para os dias atuais é o fato da Geração Y valorizar os relacionamentos e buscar experiências inovadoras. Outra característica muito apropriada é o interesse por desafios onde possam usar todo seu potencial e que proporcionem feedbacks rápidos.

Como ponto negativo creio que a maior fragilidade desta geração é "fazer escolhas e focar nelas".

Primeiramente precisamos avaliar o cenário que é complexo e dificulta as escolhas. Hoje são inúmeras as possibilidades que o jovem encontra para decidir sobre seus futuro. Veja o exemplo dos cursos universitários - quando a geração X precisou escolher um curso, tinha aproximadamente 50 possibilidades de carreiras, hoje um jovem encontra mais de 480 carreiras diferentes para escolher.

Outro fator é que esta geração foi sempre estimulada a "vencer". Seja no videogame, na escola ou em casa, toda orientação que teve pressionava a ser um vitorioso. Ganhar é a única possibilidade aceitável em nossa sociedade. Como fazer escolhas significa "perder" alguma coisa, o jovem tenta evitar tomar decisões.

5) Na sua visão, como o mercado está recebendo os jovens dessa geração? E você acredita que os Y's estão sabendo se adaptar ao mercado?

O mercado está um pouco assustado com as características desta geração e em diversos momentos observamos o despreparo de gestores e de empresas em promover as mudanças que se mostram necessárias e urgentes. O que mais se observa é uma constante busca por modelos que permitam o "enquadramento" dos jovens em processos organizacionais que foram estabelecidos nos últimos 30 anos.

Todo este cenário tem pressionado os jovens a uma constante adaptação em suas escolhas, contudo as expectativas atuais da geração Y são formadas por estímulos intensos e diferentes, por isso este processo de adaptação não é fácil. O processo não será simples para ninguém, mas acredito que haverá um equilíbrio na medida que esta geração alcançar posições mais consolidadas, onde possam alcançar maior maturidade e experiência.

6) Quais são as competências que a Geração Y deve apresentar para se destacar no mercado em geral? E para os cargos de liderança?

Creio que existem algumas competências que o jovem precisa desenvolver com mais intensidade para ser bem sucedido em suas escolhas:

Paciência e Estratégia - o jovem deseja e pede feedback de todas as suas ações, contudo esta busca de reconhecimento constante afeta seu desempenho e seu foco nos objetivos, principalmente quando ele desenvolve com impaciência.

Foco em Inovação - buscar a mudança é uma característica desta geração e um de seus principais instrumentos são os questionamentos, contudo, se isso ocorre sem uma estratégia na forma de apresentar suas perguntas é possível que os questionamentos sejam confundidos com confrontamentos, que bloqueiam qualquer possibilidade de mudanças e inovações.

Resiliência - muitas vezes considerada destrutiva nas organizações, uma vez que coloca dúvidas sobre modelos e padrões estabelecidos. Esta expectativa precisa ser entendida não como uma liberação insana e irresponsável, mas sim como uma busca de flexibilização, cuja melhor manifestação é a informalidade.

Foco em Resultados - esta geração tem foco em resultados desde a primeira vez que aprendeu a brincar com videogames. Os jovens gostam de saber seus resultados e gostam de compartilhar. A armadilha se instala quando a competitividade destrói os valores e os resultados são alcançados no melhor estilo CQC (custe o que custar).

7) Sendo especialista no tema, como você acha que serão os futuros líderes vindos da Geração Y? E a transição das lideranças atuais para as futuras?

Aproximadamente 20% dos líderes nas empresas já pertencem a geração Y (fonte – Hay Group) e são formados por jovens com elevada qualificação acadêmica (graduação, MBAs, inglês realmente fluente, etc), mas com pouca formação em gestão de pessoas. A falta de conhecimento tácito, adquirido com a experiência funcional, e o total "foco em resultados" ainda faz com que o líder da Geração Y seja visto como "sem tato" por sua equipe.

O líder da geração Y ainda precisa aprender a lidar com os relacionamentos interpessoais usando "ferramentas analógicas" como conversas, olho-no-olho, etc., e não apenas através dos instrumentos virtuais que ele domina com facilidade.

A transição é possível desde que seja reestabelecido o diálogo, além de ser criado um novo papel para os líderes atuais, que é o de líderes educadores que possam auxiliar os jovens a encontrarem seu caminho e assumirem suas escolhas (boas e ruins), dando a oportunidade destes jovens cometerem os próprios erros e crescerem com eles. Somente assim estaremos preparando a próxima geração de lideres e que certamente farão escolhas que afetarão a todos nós.

8) Por fim, qual a sua opinião sobre os Programas de Trainee? De maneira "grosseira", estes programas têm como objetivo selecionar jovens e moldá-los em líderes. O que você acha sobre isso? É possível construir um líder?

Acredito que os programas de trainees também estão sofrendo as pressões para mudanças diante de todo este cenário que estamos observando.

As empresas estão descobrindo que devem proporcionar desafios reais para seus trainees, assim como desenvolver os gestores atuais para que estejam preparados para serem mentores de fato. Aquelas que forem bem sucedidas nestas ações certamente irão atrair os melhores talentos.

Minha recomendação para os candidatos a trainee é que escolham com muito critério as empresas que irão submeter-se a avaliação. Adotar a postura de "profissional de seleção de trainee" é facilmente identificada e os processos estão cada vez mais sofisticados, identificando com precisão os verdadeiros talentos profissionais que as empresas buscam.

O candidato precisa focar em seus interesses e escolher aquela empresa que apresente um plano de desafios que efetivamente possa promover um bom ambiente profissional para o desenvolvimento e realização futura.

Para conhecer mais o trabalho do Sidnei Oliveira, você pode acessar seu site http://www.sidneioliveira.com.br ou seguí-lo no twitter @sidneioliveira.

2 comentários

  1. Bruna // 21 de junho de 2010 às 21:08  

    Adorei a entrevista! O Sidnei é fera! Assisti a uma palestra dele no Congresso da minha faculdade e tive a oportunidade de bater um papo com ele! É um cara SUPER legal! :) Merece o sucesso que tem!

    Parabéns pelo blog! Estou me candidatanto loucamente! Rs...

    beijos

  2. Marianne // 23 de junho de 2010 às 21:40  

    Oi, Bruna!

    Realmente, ele é fera! Também tive a oportunidade de conhecê-lo, no FONATE, e ele realmente é um cara muito legal! Sempre abertíssimo pra conversar, além de ser a simpatia em pessoa!

    Ainda bem que gostou da entrevista! :)

    Obrigada pela visita e pelo elogio!

    Um beijo,

    Mari